27.4.07

TIPOGRAFIA | A jovem tipografia brasileira

Através de séculos de cultura escrita, inúmeras formas de representação do alfabeto foram e continuam a ser desenvolvidas. Diferentes culturas - com seu modo de pensar, cânones, modas, estilos e tecnologia - criaram, aperfeiçoaram e trocaram informações entre si, em maior ou menor grau. Deste processo resulta um vasto universo tipográfico, cuja taxonomia é extremamente variada. Para se trabalhar com um número sempre crescente de fontes, é preciso observar atentamente os diversos desenhos disponíveis e entendendo seu significado sabermos aplicá-los da maneira mais correcta.

Cada vez mais os designers brasileiros aventura-se pela tipografia, uma actividade muito recente no país, e que aos poucos conquista mercado, admiradores e prémios nacionais e internacionais.

Um dos eventos do sector, a Bienal Letras Latinas reuniu em maio de 2004, no Memorial da América Latina, em São Paulo, e em outros três países (Argentina, Chile e Uruguai), 235 trabalhos de profissionais latino-americanos.

As dez criações nacionais seleccionadas entre os 40 destaques da Bienal Letras Latinas formam um conjunto identificável pelo enfoque visual, estético.
Ao todo, inscreveram-se 20 profissionais, com 49 fontes brasileiras, é representativa do estado da arte da tipografia no país, onde predominam fontes criadas para usos parciais e específicos, como títulos, logotipos e eventos institucionais. Nelas, a linguagem ilustrativa prevalece sobre critérios técnicos de legibilidade.

É bastante grateficante o facto de o Brasil ter seis trabalhos que foram seleccionados na categoria experimentais. A Final Font, concebida em 2003 por Gustavo Piqueira e equipe da Rex Design, exemplifica uma constante produção tipográfica.

São verdadeiras experimentações dentro da profissão, trata-se de iniciativas independentes. Os desdobramentos, contudo, podem inserir no mercado o que é inicialmente puro conceito. Um exemplo é a Árvore, Folhas, que integrou a identidade visual do evento de moda São Paulo Fashion Week, em 2002, e actualmente é veiculada na abertura de um programa diário da MTV brasileira.

A paixão do designer Fábio Lopez pela tipografia começou em 1998, comercializando fontes criadas por ele e um grupo de colegas da Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi), do Rio de Janeiro, através do que se denominava Fontes Carambola. A experiência terminou prematuramente, por causa da inconstância do mercado. Na Letras Latinas, o designer foi destaque com a fonte Ryad, inspirada em alfabetos não latinos, que adopta o princípio da emulação - segundo Lopez, uma espécie de simulação. Assim, devido às características formais, uma palavra escrita em qualquer língua com a Ryad parece ser proveniente do árabe.

Na mesma categoria foram destaques as fontes Persplexitiva, que Cláudio Rocha criou para a assinatura de Millôr Fernandes em artigos de jornais e revistas, além da Wayana, de Diego Credidio.

Já nos segmentos títulos e miscelânea, os trabalhos brasileiros seleccionados foram, respectivamente, a Akrylicz Grotesk, também de Cláudio Rocha, e a Manguebats, da pernambucana Fundição/Tipos do Acaso (esta também premiada simultaneamente pela Bienal da ADG).

As fontes Lalo e Paulisthania, concebidas, respectivamente, por Eduardo Omine e Luciano Cardinali, foram os destaques brasileiros na categoria textos, segmento em que a produção ainda é tímida no país. Nessa área, em que aspectos de legibilidade são critérios fundamentais da criação tipográfica.

Os designers destacam ainda, como tendência, trabalhos que trataram da sistematização de idiomas apenas falados, como a Guaranítica, do argentino Mauricio Javier Franco.






\\Amor_Ligaduras, de Clarissa Tossin \\ Paulisthania, de Luciano Cardinali




\\Árvore, de Clarissa Tossin \\Final Font, de Gustavo Piqueira



\\Akrylicz Grotesk, de Cláudio Rocha \\Persplexitiva, de Cláudio Rocha


Lalo, de Eduardo Omine


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